terça-feira, 4 de junho de 2013

A Bíblia ou: A LEI RECEBIDA PELO MINISTÉRIO DOS ANJOS


Capa da obra de José Herculano Pires, edição Correio Fraterno
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A apresentação deste trabalho encontra-se também publicado num sector de Estudos Bíblicos que foi criado pelos autores de espiritismo cultura. Para ter acesso ao mesmo basta clicar nesta frase.

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− A divulgação em pdf de um arranjo especial de “Visão Espírita da Bíblia” de José Herculano Pires (acesso colocado ao fim dos comentários, cuja leitura se recomenda) é precedido de citações encadeadas que retirei do próprio livro, seguido de um texto de minha autoria que também apresenta o tema.

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 Retalhos encadeados pesquisados no livro:

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“…A origem mediúnica das religiões é hoje uma tese provada pelas pesquisas antropológicas e etnológicas. Só os materialistas a rejeitam.
Os interessados podem estudar o assunto no livro do professor Ernesto Bozzano, “Povos Primitivos e Manifestações Supranormais”, ou na obra José Herculano Pires “O Espírito e o Tempo”, lançado pela Editora Pensamento.
Mas não pense o leitor que são os espíritas que afirmam a origem mediúnica da Bíblia. Quem afirmou foi o apóstolo Paulo, quando declarou peremptoriamente:
“Vós recebestes a lei por ministério de anjos”, em Actos, 7:53
“Porque a lei foi anunciada pelos anjos”, em Hebreus 2:2
“Espíritos são administradores, enviados para exercer o ministério”, em Hebreus 1:14
Antes, em Hebreus, 1:7, Paulo, depois de advertir que Deus havia falado de muitas maneiras aos profetas, acrescenta: “Sobre os anjos, diz: o que faz os seus anjos espíritos e os seus ministros chamas de fogo”.
O reverendo Haraldur Nielsson, em seu livro “O Espiritismo e a Igreja”, ele que foi o tradutor da Bíblia para o islandês, a serviço da Sociedade Bíblica Inglesa, afirma que o Cristo depois da ressurreição é muitas vezes chamado “pneuma”, no original grego do Evangelho. E “pneuma” quer dizer ESPÍRITO.
O MINISTÉRIO DOS ANJOS, esse ministério divino a que o apóstolo Paulo se referiu tantas vezes, É EXERCIDO ATRAVÉS DA MEDIUNIDADE.
A própria Bíblia nos relata uma infinidade de comunicações mediúnicas.
Veja-se, por exemplo, as palavras do rei Samuel, em Provérbios, 31:1-9, que, segundo o texto bíblico, são “a profecia com que lhe ensinou sua mãe”.
Temos ali uma comunicação espírita integralmente reproduzida na Bíblia.
A mãe do rei Samuel (não em forma de anjo, mas na sua própria forma humana) aparece ao Rei e lhe dita a mensagem.
A Bíblia condenou essa comunicação? Não.
Jeová era o espírito protector de Israel, que se apresentava como Deus, porque a mentalidade dos povos do tempo era mitológica e os espíritos eram considerados deuses.
O filósofo Tales de Mileto já dizia, na Grécia, cinco séculos antes de Cristo: “O MUNDO É CHEIO DE DEUSES”.
Os espíritos elevados eram considerados deuses benéficos, e os espíritos inferiores eram deuses maléficos. Daí a invenção do Diabo, como concorrente de Deus no domínio do mundo e das almas.
Deuses, anjos e demónios, da Bíblia, dos Vedas, do Alcorão, de todos os livros sagrados, NADA MAIS SÃO DO QUE ESPÍRITOS.
Quem conhece o Deuteronómio, livro Bíblico sempre citado contra o Espiritismo, sabe que os seus melhores episódios são de ordem declaradamente mediúnica.
O próprio Moisés é constantemente citado como “mediador entre Deus e o povo”.
A palavra “médium” é moderna, mas quer dizer o mesmo que “mediador”.
A Bíblia é essencialmente uma obra mediúnica, alguns a designam como “O Livro” e é a codificação da primeira revelação do ciclo do Cristianismo.
O Evangelho, como se costuma designar o Novo Testamento, não pertence à Bíblia traz uma nova mensagem, substituindo o deus guerreiro da Bíblia pelo deus amor do Sermão da Montanha.
No Espiritismo não devemos confundir esses dois livros, mas devemos reconhecer a linha histórica e profética, a linhagem espiritual que os liga.
São, portanto, dois livros distintos.
Mas, assim como nas páginas da Bíblia está anunciado o advento do Cristo, também nas páginas do Evangelho está anunciado o advento do Espírito de Verdade.
Esse advento deu-se no século passado, com a terceira e última revelação cristã, chamada revelação espírita.
A revelação bíblica, portanto, não pode ser chamada a “palavra de Deus”, ela é tão-somente a palavra dos Espíritos-Reveladores; a expressão “a palavra de Deus” é de origem judaica.
Foi naturalmente herdada pelo Cristianismo, que a empregou para o mesmo fim dos judeus: dar autoridade à Igreja.
A Bíblia, considerada “a palavra de Deus”, reveste-se de um poder mágico: a sua simples leitura, ou simplesmente a audiência dessa leitura, pode espantar o Demónio de uma pessoa e convertê-la a Deus.
Claro que o Espiritismo não aceita nem prega essa velha crendice, mas não a condena. A cada um, segundo suas convicções, desde que haja boa intenção.
A palavra de Deus não está na Bíblia, mas na natureza, traduzida nas suas leis.
A Bíblia é simplesmente uma colectânea de livros hebraicos, que nos dão um panorama histórico do judaísmo primitivo.
 As pesquisas históricas revelam que os livros da Bíblia têm origem na literatura oral do povo judeu.
Só depois do exílio na Babilónia Esdras conseguiu reunir e compilar os livros orais (guardados na memória) e proclamá-los em praça pública como a lei do judaísmo, ditada por Deus.
O Espírito que ditou essas leis a Moisés, no Sinai, era o guia espiritual da família de Abrão, Isaac e Jacob, mais tarde transformado no Deus de Israel.
Desempenhando uma elevada missão, esse Espírito preparava o povo judeu para o monoteísmo, a crença num só Deus, pois os deuses da antiguidade eram muitos.
As supostas condenações do Espiritismo pela Bíblia decorrem das interpretações sacerdotais.
A Bíblia é um dos maiores repositórios de factos espíritas de toda bibliografia religiosa. E os textos bíblicos estão eivados de passagens tipicamente espíritas, como veremos…”
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Texto meu:

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A Bíblia não é muito conhecida pela imensa maioria das pessoas.
Os sectores ideológicos que mais habituados estão a lê-la e a estudá-la, constroem, cada um a seu modo, códigos interpretativos que servem os propósitos doutrinários que professam.
Sempre foi assim, em todas as épocas, em todos os regimes que a utilizaram para justificar atitudes que lhe convinham.
Há grande número de investigadores da maior competência histórica que atestam isso, com base em factos da mais comprovada veracidade.
Quanto aos investigadores espíritas são unânimes em referir as alterações introduzidas nos textos bíblicos – autênticas falsificações a maior parte das vezes – que conduzem ao apagamento do carácter mediúnico, o escamoteamento da categorização dos “espíritos” ou do “Espírito” e até a acrobacia conceptual que transformou este numa outra entidade equiparável a entidade divina, a terceira figura da trindade, ou “Espírito santo”.
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José Reis Chaves diz-nos por exemplo que:
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“…Na Bíblia, quando se fala no espírito de determinada pessoa, a quem o autor se refere nas traduções, existe à frente do espírito o artigo definido em português “o”. E nos originais bíblicos, aparece uma infinidade de espíritos não definidos (não se sabendo de quem eles são), pelo que nas traduções para o português tem que se colocar antes deles o artigo indefinido “um”.
Outras vezes, também, quando nos originais temos a expressão “um espírito”, os tradutores acrescentam o adjectivo “Santo” (com a letra inicial maiúscula) ao Espírito (com a inicial também maiúscula), para darem a entender que se trata do Espírito Santo trinitário, ficando assim: “o Espírito Santo”, em vez de “um espírito santo” (bom), como está nos originais evangélicos em grego e na Vulgata Latina, de são Jerónimo (5º século)…” 
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E, noutra sua intervenção:
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“…Quando os bispos do Concílio Ecuménico de Constantinopla (381) instituíram a doutrina do Espírito Santo e as bases da doutrina da Santíssima Trindade, instalou-se no cristianismo uma das maiores crises teológicas de sua história. Assim é que, já naquela época longínqua e de grande atraso intelectual, essas doutrinas e outras dogmáticas encontraram muita resistência entre os cristãos, as quais se firmaram na Igreja não pela lógica e a razão, mas à base da espada e da fogueira. 
A voz da consciência de cada cristão recebia um ultimato: ou crê ou morre! 
Não negamos o Espírito Santo, apenas não concordamos com a significação contrária à da Bíblia que Lhe conferiram os teólogos. 
Na verdade, Ele é como um substantivo colectivo que designa todos os espíritos…” 
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Mas não foi esse o único conjunto de vicissitudes que “O Livro” enfrentou.
Todo o processo da sua redacção, ou das suas redacções, foi enormemente instrumentalizado. Além de ser uma obra destinada a orientar atitudes de natureza moral e a fornecer aos homens chaves de entendimento da natureza do mundo e da sua relação com a transcendência, foi mesmo um corpo de leis que tinha por objectivo condicionar os modos de funcionamento político da sociedade e as estratégias do poder, legitimando-os.
Num tempo dilatadíssimo de séculos durante o qual os recursos de vária ordem e o sistema de funcionamento das sociedades era ainda sujeito às maiores limitações, imaginem-se as condicionantes que foram presidindo à sua configuração.
O mistério da Bíblia está na sua sobrevivência, na duração conquistada pelas suas palavras no seio da consciência dos fiéis de variadíssimas confissões religiosas.
No entanto…durante muitos séculos, embora pesadamente manipulada – foi subtraída ao conhecimento dos crentes pelas autoridades católicas que condenaram à prisão perpétua aqueles que a ousassem libertar – pela tradução em qualquer das línguas vivas – das condicionadíssimas versões eclesiásticas em grego e latim.
Imensidade de estudos dos mais autorizados investigadores documentam estes factos de forma transparente e não é preciso fazer citações seja de quem for para comprová-lo.
Toda a gente conhece o combate hercúleo travado por Martinho Lutero para efectuar a primeira versão da Bíblia traduzida em alemão.
A tradução da Bíblia feita pelo padre João Ferreira de Almeida( a quem José Herculano Pires alude várias vezes no livro que abaixo se publica) é a versão em língua portuguesa que acho mais bela.

A capa, contracapa e lombada da Bíblia traduzida para português pelo Padre João Ferreira de Almeida, em edição de 1913 da Americam Bible Society, New York.
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Nota histórica a respeito do notabilíssimo e esforçado tradutor:

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João Ferreira de Almeida (1628-1691), um português de Torre de Tavares, recebeu a sua educação teológica na Holanda, país que nessa altura se apresentava na Europa como vanguarda cultural e ideológica face ao dogmatismo retrógrado de Roma, empreendeu – ainda muito jovem – a primeira tradução do Novo Testamento para a língua portuguesa. Só em 1670, após ter enfrentado inúmeras vicissitudes e até perseguições, a tradução estava concluída, tendo sido publicada  outros onze anos depois.
João Ferreira de Almeida faleceu antes de completar a tradução de todo o Antigo Testamento do original hebraico. No entanto traduziu-o, de Génesis a Ezequiel, enquanto estava em Java (Indonésia).
Em 1819 foi publicada a primeira edição da sua tradução da Bíblia em Português, de Génesis a Apocalipse, sendo as versões revistas e actualizadas, posteriormente, as que continuam a ser utilizadas pelos cristãos evangélicos de língua portuguesa.

Capa da edição de 1681 do Novo Testamento, feita em Amsterdão, de autoria do Padre João Ferreira de Almeida
Esta muito resumida alusão, feita apenas para situar historicamente esta insigne figura de português e de lutador pelas causas evangélicas, mereceria mais amplo detalhe, incluindo muitos obstáculos que teve de enfrentar ao ter-se proposto traduzir e editar os textos bíblicos, trabalho monumental a que se devotou – sem ter completamente conseguido esse objectivo enquanto ainda vivo.

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