Autor: Léon Denis.
Livro: Depois da Morte
Os materialistas,
em sua negação da existência
da alma, muitas
vezes têm
apelado para a
dificuldade de conceberem um
ser privado de
forma. Os
próprios
espiritualistas não sabem explicar como
a alma imaterial,
imponderável,
poderia presidir e unir-se
estreitamente ao
corpo material, de
natureza
essencialmente diferente. Essas
dificuldades
encontram solução nas
experiências do
Espiritismo.
Como
precedentemente já o dissemos, a alma
está, durante a vida
material, assim
como depois da morte, revestida
constantemente de um
envoltório
fluidico, mais ou menos sutil e etéreo,
que Allan Kardec
denominou
perispírito ou
corpo espiritual. Como participa
simultaneamente da
alma e do
corpo material, o
perispírito serve de
intermediário a
ambos: transmite à alma
as impressões dos
sentidos e comunica ao corpo
as vontades do
Espírito. No
momento da morte,
destaca-se da matéria
tangivel, abandona
o corpo às
decomposições do
túmulo; porém, inseparável
da alma, conserva a
forma
exterior da
personalidade desta. O perispírito é,
pois, um organismo
fluídico; é
a forma
preexistente e sobrevivente do ser
humano, sobre a
qual se modela o
envoltório carnal,
como uma veste dupla e
Invisível,
constituída de matéria
quintessenciada,
que atravessa todos os corpos
por mais
impenetráveis que
estes nos pareçam.
A matéria
grosseira, incessantemente renovada
pela circulação
vital, não é
a parte estável e
permanente do homem. É
perispírito o que
garante a
manutenção da
estrutura humana e dos traços
fisionômicos, e
isto em todas as
épocas da vida,
desde o nascimento até à morte.
Exerce, assim, a
ação de
uma forma, de um
molde contrátil e expansível
sobre o qual as
moléculas vão
incorporar-se.
Esse corpo fluídico
não é, entretanto, imutável;
depura-se e
enobrece-se
com a alma; segue-a
através das suas
inumeráveis
encarnações; com ela sobe
os degraus da
escada hierárquica, torna-se cada
vez mais diáfano e
brilhante
para, em algum dia,
resplandecer com essa luz
radiante de que
falam as
Bíblias (antigas) e
os testemunhos da História a
respeito de certas
aparições. É
no cérebro desse
corpo espiritual que os
conhecimentos se
armazenam e se
imprimem em linhas
fosforescentes, e é sobre
essas linhas que, na
reencarnação, se
modela e forma o cérebro da
criança. Assim, o
intelecto e o
moral do Espírito,
longe de se perderem,
capitalizam-se e se
acrescem com as
existências deste.
Daí as aptidões extraordinárias
que trazem, ao
nascer,
certos seres
precoces, particularmente
favorecidos.
A elevação dos
sentimentos, a pureza da vida, os
nobres impulsos
para o
bem e para o Ideal,
as provações e os
sofrimentos
pacientemente suportados,
depuram pouco a
pouco as moléculas
perispiríticas,
desenvolvem e multiplicam
as suas vibrações.
Como uma ação química, eles
consomem as
partículas
grosseiras e só
deixam subsistir as mais sutis, as
mais delicadas.
Por efeito inverso,
os apetites materiais, as
paixões baixas e
vulgares
reagem sobre o
perispírito e o tornam mais
pesado, denso e
escuro. A atração
dos globos
Inferiores, como a Terra, exerce-se
de modo
irresistível sobre esses
organismos
espirituais, que, em parte,
conservam as
necessidades do corpo e
não podem
satisfazê-las. As encarnações dos
Espíritos que
sentem tais
necessidades
sucedem-se rapidamente, até que
o progresso pelo
sofrimento104
venha atenuar suas
paixões, subtrai-los às
influências
terrestres e abrir-lhes o
acesso de mundos
melhores.
Estreita correlação
liga os três elementos
constitutivos do
ser. Quanto mais
elevado é o
Espírito, tanto mais sutil, leve e
brilhante é o
perispírito, tanto mais
isento de paixões e
moderado em seus apetites
ou desejos é O corpo.
A
nobreza e a
dignidade da alma refletem-se sobre
o perispírito,
tornando-o mais
harmonioso nas
formas e mais etéreo; revelam-
se até sobre o
próprio corpo: a
face então se
ilumina com o reflexo de uma
chama interior.
É pelas correntes
magnéticas que o perispírito se
comunica com a
alma. É
pelos fluídos
nervosos que ele está ligado ao
corpo. Esses
fluídos, posto que
invisíveis, são
vínculos poderosos que o prendem
à matéria, do
nascimento à
morte, e mesmo, nos
sensuais, assim o
conservam, até à dissolução
do
organismo. A agonia
representa a soma de
esforços realizados
pelo perispírito
a fim de se
desprender dos laços carnais.
O fluído nervoso ou
vital, de que o perispírito é a
origem, exerce um
papel
considerável na
economia orgânica. Sua
existência e seu
modo de ação
podem explicar
bastantes problemas
patológicos. Ao
mesmo tempo agente de
transmissão das
sensações externas e das
impressões Íntimas,
ele é
comparável ao fio
telegráfico, transmissor do
pensamento, e que é
percorrido
por uma dupla
corrente.
A existência do
perispírito era conhecida dos
antigos. Pelas
palavras —
Och.ema e Férouer,
os filósofos gregos e
orientais
designavam o invólucro da
alma “lúcido,
etéreo, aromático”. Segundo os
persas, assim que
chega a hora
da reencarnação, o
Férouer atrai e condensa em
torno de si as
moléculas
materiais que são
necessárias à constituição do
corpo, e, pela
morte deste, as
restitui aos
elementos que, em outros meios,
devem formar novos
Invólucros
carnais. O
Cristianismo também conserva
vestígios dessa
crença. S. Paulo, em
sua primeira
Epístola aos Coríntios, exprime-se
nos seguintes
termos:
“O homem está na
Terra com um corpo animal e
ressuscitará com um
corpo espiritual.
Assim como tem um corpo
animal, também
possui um corpo
espiritual.”
Embora em diversas
épocas tenha sido afirmada
a existência do
perispírito,
foi ao Espiritismo
que coube determinar o seu
papel exato e a sua
natureza.
Graças às
experiências de Crookes e de outros
sábios ingleses,
sabemos que
o perispírito é o
instrumento com cujo auxílio se
executam todos os
fenômenos
do Magnetismo e do
Espiritismo. Esse organismo
espiritual,
semelhante ao
corpo material, é
um verdadeiro reservatório de
fluídos, que a alma
põe em
ação pela sua
vontade. É ele que, no sono natural
como no sono
provocado, se
desprende da
matéria, transporta-se a distâncias
consideráveis e, na
escuridão
da noite como na
claridade do dia, vê, percebe e
observa coisas que
o corpo
não poderia
conhecer por si.
O perispírito tem, portanto,
sentidos análogos
aos do corpo, porém
muito
mais poderosos e
elevados. Ele tudo vê pela luz
espiritual,
diferente da luz dos
astros, e que os
sentidos materiais não podem
perceber, embora
esteja
espalhada em todo o
Universo.
A permanência do corpo
fluídico, antes como
depois da morte,
explica
também o fenômeno
das aparições ou
materializações de
Espíritos. O
perispírito, na
vida livre do espaço, possui
virtualmente todas
as forças que
constituem o
organismo humano, mas nem
sempre as põe em ação.
Desde
que o Espírito se
acha nas condições requeridas,
isto é, desde que
pode retirar105
do médium a matéria
fluídica e a força vital
necessárias, ele as
assimila e reveste, pouco a
pouco, as
aparências do corpo terrestre. A
corrente vital
circula,
então, e, sob a
ação do fluído que recebe, as
moléculas físicas
coordenam-se
segundo o plano do
organismo, plano de que o
perispírito
reproduz os traços
principais. Logo
que o corpo humano fica
reconstituido, o
seu organismo entra
em funções.
As fotografias e os
moldes obtidos em parafina
mostram-nos que
esse novo
corpo é idêntico ao
que o Espírito animava na
Terra; mas essa
vida só pode
ser temporária e
passageira, porque é anormal, e
os elementos que a
produzem, após uma curta
condensação, voltam
às fontes donde foram
emanados.
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